sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Rascunhos Antigos*

Poderia passar o resto dos meus dias pedindo-te desculpa que não seria suficiente.
Poderia expressar mil e uma palavras que nunhuma justificaria o que fiz.
Todos os dias acordo nesta cama solitária e fria e rezo para que tudo volte atrás para tu me agarrares bem contra o teu peito nu, suspirando palavras de ternura.
Eu ouço a tua doce voz, as promessas de eternidade, os planos e desejos do futuro, e então choro...choro lágrimas de arrependimento...e cada uma escorre pela minha face matando e tirando, lenta e dolorosamente, uma parte de mim.
Parece que ja não vamos casar na quinta onde demos o primeiro beijo, parece que já não vamos ter 5 filhos, ou ter um carro vermelho... Parece que não. Tudo isso foi destruído no dia em que esperaste por mim debaixo da grande árvore, e eu simplesmente não apareci.
Iamos fugir para o apartamento que recentemente tinhas comprado...iamos viver eternamente juntos apesar dos meus pais não aceitarem a nossa relação. Iamos...iamos
Iamos envelhecer juntos e iamos sentar no alpendre a ver os nossos bebés brincar no jardim...
A., quero-te dizer que eu simplesmente não queria ver-te sofrer... seria demasiado doloroso para mim ... tive medo de dizer, de te contar mas não tenho assim tanto tempo para hesitar como hesitei no passado.
Eu tenho cancro.
Andei bem durante algum tempo, mas assim que comecei a quimio as coisas ficaram negras.
Mudei-me para outra cidade, onde há melhores condições hospitalares para a minha situação. Fui mandada para casa para... bem tu sabes... Já não podem fazer mais nada por mim.
Tenho andado muito fraca e hoje que tenho forças decidi escrever-te.
Deixar-te pendurado naquele dia parecia-me menos doloroso para mim do que ver-te a não seguires os teus sonhos por minha causa.
Sei que não tenho direito a pedir-te nada, mas vou fazê-lo : arrisca tudo pela felicidade e eu estarei lá em cima olhando por ti...serei o teu anjo da guarda, serei a tua estrela guia.

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